RECONHECIDA A OBRA DE SADE

Um manuscrito até então considerado sem nenhum valor literário, do escritor e filósofo francês Donatien Alphonse François de Sade, o Marquês de Sade, foi considerado pela Biblioteca Nacional da França um tesouro nacional e que precisa ser preservado na biblioteca. “Os 120 Dias de Sodoma” foi escrito numa folha de papel, em 1785 na Bastilha, depois feito um rolinho e escondido numa fresta da parede da cela em que estava preso. Antes de ser demolida em 1789, acharam o rolinho, que foi passado de mão em mão, foi roubado, vendido, leiloado, até chegar às mãos de um colecionador suíço, que se declarou proprietário e mantém a obra em uma fundação cultural no país.
Avaliada inicialmente em 5 milhões de dólares, o livro ficou sob censura até 1957, quando a Justiça francesa autorizou a publicação. A obra conta a história de quatro libertinos, um duque, um arcebispo, um juiz e um banqueiro, que se trancam em um castelo medieval, fazem 46 vítimas de ambos os sexos, incluindo 8 meninas e 8 meninos, que eles mutilam, estupram e matam. O escrito, que descreve orgias e atos de abusos não apenas sexuais, foi considerado o mais pervertido de todos os tempos, um marco literário, porque seria a primeira obra pornográfica da literatura ocidental. Não há nada de erótico nele.
De acordo com sua filosofia alternativa, escrita durante o período que esteve recluso, nenhum deus, moralidade, afeição e esperança deveriam existir, a não ser a extinção de humanos num delírio erótico terminal sob o sofrimento da dor e da humilhação. A obra de Sade foi objeto de vários estudos e divulgação de inúmeros resultados publicados em artigos científicos, monografias, dissertações e teses. Nos dias de hoje, pode-se acompanhar a dor e sofrimento do outro pela mídia, que usa as tragédias para garantir audiência, e de vídeos, que podem ser visto pela Internet, os quais são mais sádicos que a obra de Sade.
O sadismo, que é um comportamento humano denotado pelo prazer de humilhar, degradar e provocar o sofrimento alheio e a obra do Marques de Sade é um livro incomum, de leitura perturbadora no qual o leitor pode flagrar o homem, ver o humano em potência, para além do horror e do grotesco e para além do apelo abjeto com que esta obra se despe e se reveste.
Por: Garcia Neto