NOTA 1000 PARA QUEM ESCREVE ERRADO

NOTA 1000 PARA QUEM ESCREVE ERRADO

Será que eu posso falar e escrever “ei, meu, pega os livro aí”, “me dá dez ovo”, “me dá um ovos”, “tu disse qui ia i num foi”. Quem não recorda da distribuição do polêmico livro didático de português POR UMA VIDA MELHOR, em 2011, da Coleção Viver, Aprender, adotado pelo Ministério da Educação (MEC) e distribuído pelo Programa Nacional do Livro Didático para a Educação de Jovens e Adultos (PNLD-EJA) a 484.195 alunos de 4.236 escolas públicas. Este livro, indicado pelo MEC, defende e aceita erros de português. Creio que até posso admitir a idéia do conteúdo, desde que se respeitem as variações lingüísticas e, sobretudo, importante e didático utilizá-lo para se aprender a norma culta.
O MEC justificou o conteúdo da obra considerando importante chamar a atenção para o fato de que a idéia de “correto e incorreto no uso da língua deve ser substituída pela idéia de uso da língua adequado e inadequado, dependendo da situação comunicativa”. Posso considerar que o conceito de certo e de errado pode mudar de acordo com o contexto. Se a família e amigos de uma criança falam 'errado' (que não é a linguagem culta), para eles é o certo, ou melhor, ‘adequado’. Esses contextos são justificados por vivermos em um país de dimensão continental e a desigualdade é evidente, portanto, impossível querer que o português seja igualmente falado de norte a sul. Parece impossível!
Até aí, tudo bem, mas a vida real é outra bem diferente quando se trata de alunos finalistas do Ensino Médio e futuros acadêmicos. O resultado do Enem 2012 apresentou algumas pérolas inconcebíveis, como “rasoavel”, “enchergar”, “trousse”, que o MEC os considerou “desvios gramaticais leves”. Convenhamos, mas considerar ERROS absurdos na língua portuguesa “desvios” é querer nivelar por baixo a própria competência em dominar o que temos de mais sagrado, a nossa língua. Além de erros de grafia, foram encontrados “desvios” graves de concordância verbal, acentuação e pontuação. Na avaliação do MEC, os ‘desvios leves’ desses alunos NOTA MIL demonstram excelente domínio da norma padrão da língua escrita.
Redações que contêm erros não deveriam receber pontuação máxima, sob pena de está se promovendo a popularização do uso ridículo e chula da língua e estimulando aos estudantes a falar, ler e escrever sem atentar para o domínio das estruturas da língua portuguesa. Neste sentido, provoca a formação de profissionais incapazes de se comunicar em níveis profissional e pessoal e de decodificar o próprio sistema da língua portuguesa. Ao ingressar na faculdade, esses “alunos nota 1.000” terão de se ajustar às normas da língua de prestígio acadêmico, para tornarem-se profissionais capacitados. Não se pode admitir que a demagogia política ande de braço dado com a demagogia lingüística. No real, no sério, essas redações jamais tirariam nota máxima.
Considero essas investidas do MEC verdadeiro despautério, estupidez, um atentado à nossa gramática e à nossa verdadeira ortografia. Não justifica dizer que o estudante que fala ou escreve errado corre o risco de ser vítima de preconceito lingüístico, bem como não é correto afirmar que o estudante egresso do ensino médio ainda está em processo de letramento na transição para o nível superior. Assim é demais, senhores intelectuais do MEC, não dá para engolir.
Enfim, não podemos permitir que o governo PTista insista em modificar a grafia correta das nossas palavras.

Por: Garcia Neto